Wednesday, November 23, 2011

Coluna Cleantech Brasil - O Brasil entra na era solar (Análise)

A Cleantech Brasil é uma coluna semanal que noticia, analisa e debate tendências na área de tecnoloias verdes no mundo e no Brasil. É um produto exclusivo da Revista Sustentabilidade autoria de seu editor Alexandre Spatuzza. Nesta semana, o destaque é para os recentes acontecimentos na área de energia solar e os seus riscos. Boa leitura.
São Paulo, 14 de Novembro 2011 - Duas mil pessoas capacitadas para trabalhar com energia solar em uma parceria entre Eletrobrás e universidades na Bahia nos próximos anos. A Cemig anuncia início de sua primeira usina de energia solar com capacidade de 3MW em 2012. A MPX, empresa do Eike Batista, inaugura complexo solar fotovoltaico no Ceará. Segundo a imprensa, 95 empresas nacionais e internacionais atendem à chamada da Aneel para desenvolver projetos de energia solar, incluindo usinas entre 0,5MW e 3MW e pontos de medição nos próximos três anos. A Eletrosul recebe interesse de 14 empresas para sua chamada de pesquisa de painéis solares. Empresa brasileira planeja usinas solares de concentração térmica.
Estes são apenas alguns dos acontecimentos registrados nos últimos quatro meses na área de energia solar que podem, se trabalhados direito, colocar o país como um dos líderes no setor e desenvolver seu potencial solar que conta com seis vezes mais incidência solar que a Alemanha, líder mundial em capacidade instalada solar com cerca de 18000MW.
Mas o Brasil tem um longo e tortuoso caminho pela frente. Hoje, segundo dados da Aneel, existem operando no Brasil 1,087MW de usinas solares, dos quais 1MW vem da usina de Tauá da MPX. O resto, são projetos experimentais.
Além disso, há duas grandes barreiras já identificadas por grupos de estudos para setor do governo e fora dele, a serem enfrentadas que são a produção de silício de grau de pureza fotovoltaico e treinamento de mão de obra.
Nada que um pouco de coordenação entre o governo, o setor privado e os 142 grupos de pesquisa cadastrados no CNPq que tratam de energia solar de algum jeito não possa resolver, claro que com um programa de financiamento adequado.
RISCOS, A CHINA DE NOVO
Mas, há grandes riscos a serem enfrentados que nenhum dos estudos recentes – datados de 2009 e 2010 - mencionou que é o desenvolvimento atual do setor no mundo frente a dois fatores inéditos: a veloz ascensão da China como potência em energias renováveis e a crise econômica mundial que reduz demanda e, principalmente, enfraquece o sistema de subsídios governamentais que nas últimas duas décadas têm ajudado a desenvolver o setor.
Estes dois fatores são responsáveis por uma onda na Europa e Estados Unidos de maus resultados financeiros de fabricantes de equipamentos solares, o fechamento de fábricas e demissão de milhares de funcionários até pela falência de algumas empresas emergentes nesta área, acontecimentos que há três anos eram impensáveis. O caso Solyndra, mostra como é perigoso projetar preços em um mercado com tanta velocidade de mudança.
O fator China talvez seja o mais complexo para o Brasil, principalmente pela velocidade e pelo volume com que as mudanças ocorrem. Apesar de ter uma das maiores reservas de silício no mundo e ser um dos grandes exportadores do material em natura (cerca de 200 mil toneladas por ano), o Brasil trabalha com baixo grau de pureza e portanto exporta o material a preços baixos. Há um movimento para investir no aumento do grau de pureza para permitir seu uso na indústria solar e eletroeletrônica, no entanto, este movimento tem que ser pensado à luz do últimos acontecimentos no mercado.
Em apenas um ano, o preço final dos painéis solares caíram 40%, resultado não só de ganhos de escala pelas empresas chinesas – que dominam 50% do mercado internacional -, mas também resultado da queda do preço do silício de grau solar com ganhos tecnológicos.
Para entrar neste mercado hoje haveria um pedágio enorme em termos de investimentos em desenvolvimento tecnológico e inovação, pois qualquer produto lançado no mercado teria que acompanhar as tendências ditadas pela China e seu complexo governamental-industrial que conta com subsídios e financiamentos à exportação absurdamente baixos.
COMO SUBSIDIAR
É preciso portanto buscar um sistema de subsídio e financiamento adequado. Mesmo depois de duas décadas de consolidação, o sistema europeu ainda é sedento por dinheiro do governo por meio de tarifas feed-in pelo qual o governo garante a compra a preços competitivos a energia solar na rede. A mera indicação de redução deles está levando a disputas judiciais e corte de previsão de desempenho das empresas.
O preço da energia solar no mercado está em torno de US$300 por MWh, um preço alto em comparação a outras fontes, mesmos as fósseis que sobem com a escalda do petróleo e as restrições ambientais, e impraticável no Brasil onde o preço da energia na usina é de cerca de US$60 por MWh. Mas os avanços tecnológicos e os ganhos de escala projetam o preço final atingindo paridade com os preços de mercado dentro da próxima década.
Uma importante pesquisa feita pela empresas de engenharia alemã ABB mostra que a maior parte dos especialistas acreditam ser necessário que o governo subsidie a entrada de energias renováveis na matriz elétrica. O modelo brasileiro, testado no setor eólico, mistura mercado com algum subsídio, ou seja, quem paga grande parte da implantação das usinas eólicas são os consumidores. Do outro lado, o mesmo modelo tem, inteligentemente, forçado as empresas estrangeiras a abrir fábricas no Brasil para nacionalizar 60% dos equipamentos vendidos para os parques eólicos como condição para obtenção de financiamentos baratos do BNDES. Além disso, as empresas de energia dispõem de cerca de R$700 milhões por ano para investirem em pesquisa em inovação, e hoje começam a acelerar os projetos de energia solar como a grupo Eletrobrás, a Cemig e a Light.
O interesse em energia solar no Brasil é crescente, multinacionais com a Dupont e empresas de energia estão de olho e já estão ativas. Enquanto isso, novos fundos de investimentos planejados para o ano que vem – dois dos quais eu falei pessoalmente, inclusive o de tecnologias limpas do BNDES -pretendem investir em novos projetos solares buscando as altas rentabilidades deste emergente setor. Mas o Brasil necessita entrar na corrida com olhar alerta neste mercado que se acomoda por meio de fusões, aquisições, falências e quedas bruscas de preços que destroem qualquer projeção financeira. Não bastará apenas visar produzir os painéis de silício com a tecnologia de hoje, será necessário acompanhar e investir no desenvolvimento das novas tecnologias como nanomateriais, filmes finos e materiais fotoreativos naturais, entre outros que estão por vir.




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