Friday, April 3, 2015

Capital federal do Brasil tem o maior lixão fora da lei da América Latina

Capital federal do Brasil tem o maior lixão fora da lei da América Latina

Lei que deveria acabar com lixões não pega e lixão dá origem a cidade que não para de crescer. Mulher morreu atropelada no local nesta quinta (2). O Bom Dia Brasil começa essa edição mostrando que a lei que deveria acabar com os lixões não pegou justamente na capital federal. O maior lixão da América Latina só aumenta. Os moradores são submetidos a condições desumanas.
Mau cheiro, poeira e até trânsito de caminhões. Tudo isso pertinho do centro de Brasília.
A equipe do Bom Dia Brasil flagrou, ainda, crianças pegando carona nas caçambas dos caminhões de lixo. Que perigo. Ninguém controla, é um descaso completo, a palavra "cidadão", aquele que tem deveres e direitos, perde o sentido ali.
E um acidente aconteceu na manhã desta quinta-feira (2) exatamente no lixão. Uma catadora de lixo estava trabalhando no lixão, quando foi atropelada por um trator. Ela morreu.
Catadores fizeram um protesto na entrada do lixão. Esse não foi o primeiro acidente com pessoas que trabalham no local, sem condições mínimas de higiene e segurança.
O lixão deu origem a uma cidade, a Estrutural. Os barracos, casas surgiram na década de 1960 em torno do lixão. Estradas foram abertas e a rua principal é a rota de passagem dos caminhões que levam toneladas de lixo passando por casas e pelo comércio.
A lei 12.305, de 2005, estipulava que a meta para acabar com os lixões seria de agosto de 2014. Nada mudou até agora.
Quem mais é atingido pela insegurança e falta de higiene são as crianças.
Lixão a céu aberto já deveria ter acabado. Por lei, federal. Mas não é que Brasília mantém o maior da América Latina?
O lixão não só ainda existe, como o caminho para chegar até ele são ruas. Cheias de casa e comércio. É a rota do lixo, no meio da cidade mesmo.
O vaivém de caminhões é a cena que a família Cunha mais vê na porta de casa. Só aguento porque é o jeito, porque não tem onde morar, né, tem que aguentar, ficar aqui, conforma-se a moradora.
Barulho é apenas um dos problemas.
É complicado porque a gente não consegue manter nada limpo, né, diz uma comerciante.
O trânsito de caminhões na área é proibido, diz a placa, que não serve para nada. Tem hora que vem um atrás do outro. Quase todo o lixo produzido no Distrito Federal passa pelo lixão.
Nós estamos aqui simplesmente largados, neste local. Vocês estão vendo, a situação hoje é bem caótica, afirma o empresário André Silva.
E perigosa. Crianças sobem nos caminhões de lixo, entram nas caçambas. E seguem de carona. Vitório da Silva, de 10 anos, quebrou a mão. Eu subi no caminhão e as correntes bateram de uma vez na minha mão. Aí eu quebrei esses dois dedinhos aqui, contou o menino, mostrando o braço engessado.
E vai muita gente pendurada. Um homem conta que se segura como dá, e que não tem medo de cair.
O que cai das carroceiras, com frequência, é lixo. Que fica jogado na rua, até alguém recolher.
A noite chega e o movimento de caminhões continua na cidade Estrutural. O comerciante Davi da Silva mantém a porta do salão dele fechada. Não adianta. No fim do dia está cheio de poeira. Em casa é igual. O mau cheiro é impossível, você não consegue nem se alimentar direito, dormir, com uma carreta de 30 toneladas passando em cima desses quebra-molas aqui, impossível, não dá, diz ele.
O motorista de um dos caminhões também lamenta: É chato, né? Tinha que fazer uma pista para gente passar, né?, diz João Paulo da Costa.
Do jeito que está, sair de casa, só com nariz tampado. Vocês estão aí, né, vendo a situação, né, para dizer que nós moradores, não estamos mentindo, né? Difícil, mas um dia isso vai acabar, diz a dona de casa Maria José.
O Distrito Federal não foi multado por causa do lixão. O Instituto Brasília Ambiental é o responsável por fiscalizar. Em nota, disse acompanhar as medidas que viabilizam a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. E não tem data para ficar pronto o novo aterro sanitário que está em construção no Distrito Federal.