Thursday, May 23, 2013

Lixo será reaproveitado para virar energia elétrica

Gilmar de Souza é motoboy. Ele passa cerca de cinco horas por dia em cima de uma moto fazendo entregas em Ribeirão Preto e região. Ao chegar em casa, por volta das 19h, só pensa em tomar um banho. Debaixo do chuveiro, a água faz o pensamento surfar nas contas que tem para pagar, nos problemas do trabalho, nas escolas das filhas e no futuro da família. Depois de quase 20 minutos, o chuveiro é desligado. Foram cinco minutos a mais do que a média de tempo gasto pelo brasileiro debaixo do chuveiro.

Para Gilmar, a energia elétrica que ele usa vem das hidrelétricas. E ele tem razão. É assim em todo o Brasil, onde cerda de 75% da energia elétrica produzida vem da força das águas. Por isto, para evitar dependência de apenas uma fonte geradora, o país vem buscando fontes alternativas para geração de energia elétrica. Gilmar não sabe, mas a casa dele poderá receber energia elétrica com a queima do gás metano produzida pela decomposição do lixo depositado no aterro sanitário de Guatapará, que pertence ao Centro de Gerenciamento de Resíduos (CGR), mesma empresa que vai, em um futuro próximo, operar o aterro sanitário de Piratininga, a 13 quilômetros de Bauru.

Será a primeira usina da região de Ribeirão Preto a produzir energia elétrica a partir da queima do gás metano e uma das mais modernas do país. “Nós temos (CGR) um dos melhores aterros do Brasil, que recebe nota máxima da Cetesb desde 2007. Agora queremos ser referência de empresa ambientalmente sustentável na queima do gás metano e produção de energia elétrica”, afirma o presidente do CGR Guatapará, Mauro Picinato.

A produção de energia elétrica a partir do lixo, no aterro do CGR Guatapará, deverá ocorrer em 2013 e será suficiente para abastecer cerca de 55 mil habitantes já no início de sua produção. A energia produzida na usina instalada no aterro será levada a uma subestação e em seguida coloca na rede de distribuição. A venda dessa energia poderá ser feita às distribuidoras ou para grandes consumidores. “O Brasil precisa de energia elétrica para crescer. Nós estamos oferecendo mais uma alternativa de energia limpa e renovável à sociedade, além da geração de novos postos de trabalho e oportunidades para desenvolvimento tecnológico do setor”, explica Picinato.


Parceria

O CGR Guatapará assinou um acordo com a empresa portuguesa ENC BioEnergy, que será a responsável por operar o processo para obtenção da energia. Três motogeradores, que poderão produzir inicialmente 4,2 MWh (Mega-wats hora), serão acoplados a usina de biogás até o final do ano. Até 2016 a produção projetada é de 10 MWh. “São equipamentos produzidos com a mais moderna tecnologia existente”, afirma Picinato. A usina de biogás foi comprada da Biotecnogas, empresa italiana e uma das maiores do segmento no mundo. Já os motogeradores são da General Eletric e foram construídos na Áustria.

De acordo com o diretor da ENC BioEnergy, Jorge Matos, “o Brasil tem potencial de gerar 800 MWh a partir da utilização do gás metano retirado dos aterros sanitários. Para isto, seriam necessários investimentos de cerca de US$ 1,6 bilhão para construção de novas usinas de biogás e compra de motogeradores. É um mercado que vai se expandir nos próximos anos”, afirma. Atualmente, o país gera cerca de 30 megawats em usinas instaladas em Salvador, Belo Horizonte e em São Paulo. O projeto de Guatapará contemplará mais 10MWh a estes. A CGR deverá expandir o projeto para Piratininga, Jardinópolis e Araçatuba, onde possui atuação ou projetos em desenvolvimento.


Crédito de carbono

O CGR informa que já está em fase final da homologação seu projeto de certificação na UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change), organismo da ONU que concentra todo procedimento autorizativo dos projetos de redução de emissão no planeta. Ainda este ano, a empresa adianta que vai comercializar seus créditos de carbono pela queima do gás metano retirado do aterro sanitário de Guatapará. “Todas as fases do projeto a construção da usina de biogás foram realizadas. Esperamos agora a autorização para vendermos esses créditos”, afirma Picinato.

O mercado de créditos de carbono surgiu a partir do Protocolo de Quioto, acordo internacional que estabeleceu que os países desenvolvidos deveriam reduzir, entre 2008 e 2012, suas emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), 5,2% em média, em relação aos níveis medidos em 1990. O país ou empresa que não consegue reduzir o que foi estipulado deve comprar os créditos de empresas que reduziram as emissões e foram certificadas pela ONU.

O investimento para construção da usina de biogás e a compra dos motogeradores que serão acoplados a usina para geração de energia elétrica vão consumir cerca de R$ 40 milhões, segundo informa a CGR. “O retorno financeiro se dará pela venda de crédito de carbono, em razão da queima do metano, um dos responsáveis pelo efeito estufa, e pela venda de energia elétrica para as distribuidoras de energia. Mas mais importante do que o ganho financeiro é saber que estamos contribuindo para deixar o planeta melhor. Esse ganho ambiental é imensurável”, explica Picinato.

http://www.jcnet.com.br/Economia/2012/09/lixo-sera-reaproveitado-para-virar-energia-eletrica.html

 

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